Consulta: Relação com a Ulepicc (federação)
A diretoria da Ulepicc-Brasil, eleita em seu evento em Maceió, no ano de 2018, tomou como uma de suas metas primordiais resolver as pendências na relação da entidade brasileira com a Ulepicc (Federação). Depois de uma avaliação da situação entre os membros da diretoria e uma tentativa de diálogo com a presidência da Federação, resolveu-se ouvir os ex-presidentes, expondo-lhes a proposta da atual diretoria, observando suas considerações para, em seguida, apresentá-la para debate e votação entre os associados. A proposta que agora apresentamos para apreciação das associadas e dos associados está baseada nos motivos e avaliações apresentados abaixo.
O esforço de construção de uma União Latina de Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura, que contou com a participação ativa de diversos pesquisadores brasileiros, concretizou-se pautado no modelo organizativo de uma Federação. Contudo, o que se pode observar com a experiência de 17 anos é a total inadequação de tal modelo, tendo em vista que a Federação é constituída por apenas dois capítulos nacionais, o brasileiro e o espanhol, e uma quantidade significativa de associados diretos de outros países latinos, desvinculados de qualquer capítulo. Isso gerou desequilíbrios de diversas ordens.
Parece-nos, diante de uma observação inicial desse aspecto, que é completamente espúria qualquer avaliação do atual estado de litígio entre a entidade brasileira e a Federação, que o reduza a qualquer ordem de indisposição entre indivíduos. Ainda que essa indisposição exista e venha sendo utilizada principalmente como uma barreira à atuação da entidade brasileira nos debates relativos à Federação, a atual diretoria da Ulepicc-Brasil, constituída majoritariamente de jovens pesquisadores que não participaram das referidas dificuldades e rusgas, repele que a questão seja tratada nesse nível.
Assim, antes de tudo, recusamos categoricamente a transformação de uma incompatibilidade de visões quanto ao desenho institucional da entidade em querelas e pelejas entre indivíduos. A proposta aqui apresenta representa exclusivamente uma avaliação das condições nacionais de organização de uma entidade que convirja os esforços de construção de um campo crítico nos estudos da comunicação, ou seja, aquele relativo à Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura. Acreditamos que os associados da Ulepicc-Brasil estarão de acordo com isso.
A partir disso, ao nos assenhorarmos de diferentes pontos de vistas sobre a situação atual de esgarçamento das relações, ouvidas as exposições dos ex-presidentes da Ulepicc-Brasil, chegamos à conclusão de que, na atual forma, as relações institucionais entre a Federação e o Capítulo Brasil alcançaram um ponto insustentável. Há consenso quanto à insuficiência e inviabilidade do modelo federativo, mais ainda quanto a seus resultados prejudiciais no que diz respeito ao esforço nacional de organização da entidade.
Poupamos a todos de descrever pormenorizadamente as diversas etapas do esgarçamento das relações. Basta-nos dizer que ela se desdobrou ao longo do tempo em diferentes diretorias da Ulepicc-Brasil, com posicionamentos particulares e diversos sobre a questão, mas sempre limitados pela impossibilidade de atuação diante do desenho institucional e modelo organizativo adotados. Não é de hoje, portanto, que a Ulepicc-Brasil, suas diretorias e associadas e associados tentam equacionar a questão, o que se mostrou impossível.
No diálogo mantido entre a atual diretoria e a presidência da Federação, as questões e dificuldades organizativas foram apresentadas como supostamente resolvidas, bastando dirimir apenas o problema institucional da recusa da Ulepicc-Brasil em pagar a anuidade à Federação. Alertamos, inclusive, que se trata de uma lacuna nos Estatutos da Federação, o que nos respalda a continuar interpretando como acertada tal decisão. Mas, nos parece bastante chocante que qualquer esforço em debater as dificuldades organizacionais seja reduzido a um acerto de contas financeiro.
Da parte da Federação nada foi apresentado como um caminho para a discussão e resolução do problema institucional, o que reforça ainda mais a impossibilidade de diálogo nas atuais condições organizativas. A Federação, de fato, não existe, de modo que ela camufla um poder concentrado na entidade internacional e um definhamento das condições efetivas de atuação coletiva da entidade nacional.
Particularmente no contexto presente, as condições de produção científica, tecnológica e de inovação no Brasil chegaram a uma situação dramática na atual conjuntura governamental. Ela exigirá que as entidades nacionais tenham força interna para enfrentar os desafios políticos de cortes de financiamento e toda sorte de obscurantismos que assombram a CT&I no país. A atual diretoria da Ulepicc-Brasil, em dia com a natureza crítica do campo e em conformidade com as diretorias que a precederam, tem somado esforços na construção de soluções e resistência com as demais entidades científicas do país, buscando ainda uma construção orgânica com grupos de pesquisa, pesquisadoras e pesquisadores da América do Sul.
Contudo, temos clareza de que se trata de um momento em que o fortalecimento da capacidade política e organizativa da entidade em suas próprias condições nacionais é imperativo. As complicações oriundas do modelo federativo e as dificuldades de fortalecimento da entidade nacional no âmbito do atual desenho institucional, somadas à inviabilidade de qualquer mudança no atual cenário da Federação, exigem de nós uma postura firme e propositiva, sem ressentimentos ou portas fechadas.
Por isso, a atual diretoria da Ulepicc-Brasil propõe o desligamento da entidade frente à Federação. Pautamos a necessidade de fortalecimento da organização nacional para o enfrentamento das atuais condições políticas do país, mas também exortando uma futura construção e adequação da entidade internacional segundo novos marcos. Não se trata, portanto, de inviabilizar qualquer relacionamento com as entidades e organizações internacionais, mas de um necessário e urgente reforço da associação nacional. Concluímos ainda, esgotados os outros caminhos, que esse é um movimento necessário para um debate efetivo sobre a natureza da Ulepicc como um todo. Temos certeza que os colegas dos demais países não interpretarão nosso movimento como um isolamento, muito pelo contrário.
Diante do exposto, convidamos os associados da Ulepicc-Brasil para um debate sobre a questão, visando a consulta sobre a proposta acima exposta. Entendemos que a decisão é política, ou seja, não passa ainda por qualquer tipo de mudança no estatuto ou no regimento, até mesmo porque estes documentos não tratam de forma direta de relação institucional dependente à Ulepicc. Além disso, se dá neste momento para que possa vir a ser encaminhada à direção da federação antes da assembleia que deve ocorrer no encontro a ser realizado em novembro, em Sevilha. Assim, abre-se aqui a discussão entre sócias e sócios a partir do seguinte cronograma:
– 23/09 – 01/11 – Debate na lista;
– 04/11 – 08/11 – Consulta pelo site.