Mais um capítulo da privatização da EBC: a venda do histórico prédio da Rádio Nacional na Praça Mauá
A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) foi incluída no plano de privatizações do governo federal, assim como outras estatais importantes. Partindo do conteúdo de declarações da área econômica do governo federal, tal privatização deve se dar, no caso da EBC, essencialmente por meio da venda de imóveis, que provavelmente será feita a preço de banana em meio à maior pandemia do século.
Este cenário muito nos preocupa, particularmente, o andamento já avançado da venda, através de leilão marcado para agosto, do edifício A Noite, patrimônio histórico-cultural não apenas da EBC, mas da imprensa nacional. Trata-se do primeiro arranha-céu da América Latina, construído em concreto armado com 22 andares, em estilo art déco, inaugurado em 1929, com vista privilegiada para a Baía da Guanabara, localizado na Praça Mauá, recentemente revitalizada, e que virou um polo turístico em nossa cidade, contando com o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio (MAR)
Por muitos anos o prédio abrigou os históricos estúdios da Rádio Nacional – desde a sua inauguração em 1936, reformados em 2004, em parceria com a Petrobras, que investiu R$ 1,7 milhão na estrutura. Nos estúdios da Nacional, apenas para citar alguns exemplos, Dalva de Oliveira, Cauby Peixoto, Emilinha Borba e outras estrelas da Era de Ouro do Rádio se apresentaram diversas vezes; foi pioneira no rádio jornalismo com a criação do Repórter Esso em 1941; onde Getúlio Vargas fez discursos históricos e o maestro Villa Lobos mostrou suas composições para todo o país.
O Edifício A Noite foi sede do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), desde a sua criação em 1970, Já no início desse século, os servidores do INPI vêm defendendo a reforma do prédio junto a seus dirigentes. No entanto, apesar das promessas, a partir de 2006 iniciou-se a evasão do prédio, optando-se pela locação de imóveis, pela qual já se gastou até este mês o valor de R$ 165 milhões, sendo que o Instituto atualmente paga pela locação de um prédio o valor de R$ 9 milhões anuais.
Este mês, a Presidência do INPI devolveu o prédio à União para a realização de leilão. Em 2016 o prédio estava avaliado em R$135 milhões, segundo matérias da mídia . Agora, surpreendentemente, a Superintendência do Patrimônio da União (SPU) o avalia em R$ 90 milhões para o leilão. Os servidores do INPI são contrários à venda do prédio e defendem a sua reforma e retomada como sede do Instituto, o que seria economicamente justificável.
Além disso, recentemente, a região da Praça Mauá passou por considerável valorização imobiliária. Em um país sério, esse espaço, no mínimo, mesmo que utilizado para outros fins, abrigaria um museu, como parte fundamental da história da imprensa brasileira. No entanto, neste país sem memória, infelizmente tal plano sequer foi cogitado pelas cabeças privatistas à frente do governo de turno, que não colocaram na previsão do leilão do A Noite uma contrapartida dessa natureza. Outros países democráticos o fizeram, como é o caso da britânica BBC. Lá, a visita aos estúdios históricos da emissora viraram, há anos, uma atração turística, inclusive autossustentável, ou seja, gerando recursos à empresa. Não enxergar semelhante potencial (inclusive financeiro) no Edifício A Noite é, no mínimo, miopia.
A venda do patrimônio histórico da comunicação pública no país, representada pelo leilão do edifício A Noite, é mais um passo para o fim da Empresa Brasil de Comunicação. Reforçamos, assim, a campanha em defesa da EBC, que claramente segue dentro dos planos de Bolsonaro para extinção ou privatização. A história e a cultura do nosso país não podem ser apagadas!
Assinam esta nota:
Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF
Comissão de empregados/das da EBC
Associação dos Funcionários do INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial)
Ulepicc-Brasil (capítulo Brasil da União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura)
FNDC (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação)
Ciranda.net (Internacional da Comunicação Compartilhada)
Conselho Curador Cassado em Resistência Pela EBC e a Comunicação Pública
Associação Brasileira de Imprensa
Tereza Cruvinel – jornalista – ex-presidente da EBC (2007-2011)
Laurindo Lalo Leal Filho, jornalista, professor da USP e ex-Ouvidor Geral da EBC
Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social
Amarc (Associação Mundial de Rádios Comunitárias)
Francisco Pereira da Silva (Diretor Sindicato dos Radialistas do DF)
Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas)