Carta da nova direção a federação e capítulos da ULEPICC
Prezados Presidentes da ULEPICC, da ULEPICC-Espanha e da ULEPICC-Moçambique.
É com prazer que informo a minha eleição, no dia 10 de novembro de 2016, em Brasília, para a presidência da ULEPICC-Brasil. Nossa diretoria é composta dos seguintes companheiros: César Bolaño (UFS – presidente), Ivonete Silva (UFV – vice), Anderson Santos (UFAL – secretário geral), Verlane Aragão Santos (UFS – tesoureira), Marco Schneider (IBICT – diretor científico), Pedro Aguiar (UERJ – diretor de comunicação) e Paola Nazário (Un. do Minho – relações internacionais).
Estou ciente de que os desafios que deveremos encontrar são grandes. As graves mudanças políticas pelas quais o Brasil e outros países da América Latina estão passando neste momento devem ser entendidas no interior da longa crise estrutural do capitalismo iniciada nos anos 1970. Neste momento, as consequências da grande recessão de 2008-9 se fazem sentir e esvaem-se as ilusões neopopulistas que animaram boa parte da intelectualidade latino-americana nos últimos 15 anos.
Uma direita renovada chega agora ao poder prometendo aprofundar as políticas neoliberais e descarregar, como sempre, o peso das políticas de ajuste sobre os ombros da classe trabalhadora, com ações que atingem de forma direta a educação pública e a produção científica, caso dos significativos cortes de recursos e das mudanças nos parâmetros de investimento para a pesquisa.
Os grandes meios de comunicação de massa estão no centro de todos esses processos, seja no que concerne a sua função de controle social, publicidade e propaganda, a serviço do Estado e do grande capital monopolista, seja pela sua própria organização como oligopólios concentrados, participantes de alianças globais que se redesenham e aprofundam com a implantação da economia da internet.
Recentemente pudemos verificar, no Brasil, a posição tímida, quando não decididamente omissa, do campo acadêmico da Comunicação frente a um processo de ruptura institucional cujo objetivo foi precisamente facilitar o aprofundamento das referidas políticas neoliberais. A elaboração teórica crítica na linha da EPC é mais necessária do que nunca.
A ULEPICC, desde a sua fundação, como entidade internacional, pautada pelos princípios da Carta de Buenos Aires, assumiu o compromisso com o pensamento crítico e os movimentos sociais, visando a democratização das comunicações, a autonomia cultural e a capacidade de resistência dos povos latino-americanos.
No momento em que decidimos pela constituição da ULEPICC, no encontro de Brasília, e definimos a sua abrangência, fizemos a opção por uma definição mais ampla (União Latina), com a pretensão de incluir, em especial, o mundo ibérico e o africano de língua portuguesa, mas o resultado concreto tem sido uma entidade dividida em três partes que pouco ou nada dialogam entre si. Ao contrário, diferenças de estratégia e ações particulares acabaram por criar mesmo divergências e tensões antes impensáveis.
Para superar essa situação é preciso repactuar, o que passa por:
1. reconhecer, acima de tudo, a autonomia cultural e política de cada uma das partes que compõem a nossa grande entidade, o que significa essencialmente que todos devem respeitar e apoiar solidariamente as estratégias e pactos estabelecidos em nível nacional em cada um dos chamados “capítulos”;
2. explicitar clara e honestamente as diferenças, onde elas existirem, e definir mecanismos efetivamente democráticos (universais e diretos) para a construção de consensos, seja nos processos eleitorais, seja nas grandes decisões, como são, por exemplo, as mudanças de estatutos.
A ULEPICC-Brasil sempre esteve na vanguarda do movimento de renovação do pensamento comunicacional crítico, atuando junto a todas as entidades e instituições relacionadas aos campos profissional e acadêmico da comunicação, em nível nacional e internacional. A nova equipe diretiva tem plena consciência disso e da sua missão histórica em relação à chamada “federação”: reconstruir a unidade para enfrentar os desafios que a realidade acima referida nos impõe.
Nessa perspectiva, com todo respeito, despeço-me.
Atenciosamente,
César Ricardo Siqueira Bolaño
Presidente da ULEPICC-Brasil